far out

29 de outubro de 2007

a minha mulher

foi o pai dele que lhe disse qualquer coisa sobre a manutenção de uma relação matrimonial... envolvia a palavra amor, dita num estilo pobre e machista... quase revolucionário.

o pai dele não era morcão nenhum. era mais esperto que os demais e construiu fortuna suficiente para ter o que precisa e mulher e filho e mulher do filho sem trabalharem. suficiente para comprar garrafões de água, para se lavar e beber (poucas vezes), quando o poço está seco, e vinho, muito vinho, para matar o tempo e humedecer a garganta e tornar menos sensível o corpo picado pelos mosquitos estivais... mais nocturnos que diurnos.

o pai dele era feliz, mesmo sabendo que a revolução não estava cumprida, até porque não foi a dele. o pai dele tinha duas caçadeiras para dar os tiros necessários e matar alguns pirilampos.

família de côxos e pouco mais se revela ali, naquela pastoso tempo de férias, em que tudo é tenso como o mau cheiro dele, a beleza infeliz da mulher dele, a ebriedade permanente da mãe dele e o desajuste familiar que o pai via nele. ele, sem sentido para a vida, a única que tinha e a que se obrigava. claro que se libertou, ele tinha a fibra de um homem que tendo respeito pela vida não se suicida, mas se deixa matar, a seu pedido com certeza.

e é neste ponto crucial, um pouco toldado pelo vinho, que a peça de josé maria vieira mendes me toca particularmente. desde jovem adulto que encontrei nesta fórmula - alguém que me mate - o segredo para uma morte pontual que, segundo o pai dele, é sempre antes da hora certa.

1 comentário:

salamandrine disse...

quando o sol picar o mar, os mosquitos vão pousar.